segunda-feira, 17 de março de 2014

O desenvolvimento de Dedé

Apesar de só vir a ter os MEUS próprios cães depois de sair da casa dos meus pais, sempre tive que cuidar de todos os bichos de lá (e era quase um zoológico!), o que me fez criar certa responsabilidade, mas Dedé nunca teve essa obrigação.

Quando fomos morar juntos, eu já tinha a Carlota, nossa atual vira-lata mais velha e ele no começo não sabia bem o que fazer, nem se ela estava com fome ou frio, ou dos perigos que ele poderia correr.

Pouco tempo depois, a louca da casa aqui resolveu adotar outra vira-lata e até aí Dedé ainda não sabia muito bem como lidar com esse compromisso de cuidar de outro ser, e eu não poderia (ou pelo menos não deveria poder) cobrar isso dele, afinal tanto a Carlota quanto a Magali foram adotadas por mim, praticamente sem a aceitação dele, apesar de ele nunca ter me cobrado por isso e, potencialmente a obrigação com elas deveria ser minha.

Houve vezes em que eu, preocupada com o bem estar delas, quis tomar (e cheguei a tomar) determinadas atitudes que tornariam (e tornaram) nossos dias mais complicados e em algumas delas Dedé chegou a me questionar o porquê daquilo, já que elas eram "só cães". Foi a partir dali que comecei a notar que ele estava enxergando as coisas baseando-se em circunstâncias extremas que não se adequavam ao que as NOSSAS bichas viviam. Não era porque elas eram vira-latas e adotadas que elas sabiam se virar como alguns cães de rua (e mesmo que conseguissem, elas não estavam na rua!) Ele ainda não entendia que se tratavam de seres muito mais dependentes do que ele poderia imaginar.

Depois de pouco tempo convivendo com muito afeto, Dedé começou a assumir que havia se apegado muito a elas, a ponto de não se ver mais chegando em casa sem ser recebido com a "festinha" das duas, que seria um misto de choramingo com latidos e uivos que não dá pra definir em palavras. O rabo da Carlota balança tanto que bate nas próprias costelas direitas e esquerdas e a Magali, "maria-vai-com-as-outras" como é, tenta acompanhar a empolgação da Carlota com latidos, pulos e mordidas leves na perna da irmã. Realmente é uma atitude que escancara a felicidade delas de nos ver.

Ele até tem desenvolvido o que eu chamo de "previsão de perigo", que seria algo como ter o bom senso de, como ser supostamente mais evoluído mentalmente que os cães, supor que determinado material pode ser nocivo a eles. Exemplo? Imaginar que uma sacola plástica ao alcance das bichas pode ser perigosa se ingerida, ou até mesmo por poder causar asfixia. Ou então pressupor, com base em todas as vezes que elas entram em casa como fãs fanáticas do Justin Bieber, que elas podem se ferir com uma tesoura no chão ou na beira da mesa. Antes Dedé não tinha esse tipo de cuidado nem com ele próprio.

Fui percebendo que, com o passar do tempo, quem não mais sabia se elas haviam se alimentado, se estavam aquecidas ou não, era eu. Mas não necessariamente por desleixo ou desapego, mas porque eu, involuntariamente, já havia depositado confiança suficiente em Dedé para tais cuidados. Hoje ele parece mais cuidadoso com elas do que eu mesma, sabe muito antes de mim quando a ração está no fim, quando aparece algum indício da sarna negra da Carlota ou mesmo quando elas nos aparecem com qualquer ralado que seja. Elas também fazem notoriamente mais "festinha" pra ele do que pra mim (causando até uma pontinha de ciúmes aqui, me deixando tipo "ei! fui eu que adotei vocês, sabiam?!"). Elas nitidamente o amam e ele inegavelmente as ama.

Só até aqui já dá pra imaginar o tamanho desse coração e quão bom pai eu tenho certeza que o Dedé será, né? :)

quinta-feira, 13 de março de 2014

Aqui na Bahia

Criança tem que se sujar, tem que brincar descalça, tem que subir em árvore e comer a fruta do pé.
Pode fazer arte, bagunçar de maneira sadia.

Pode ralar o joelho e comer um inseto ou outro de vez em quando.
Precisa de um sol lindão pra ficar forte e também de uma chuvinha pra voltar pra casa cheio de lama!

Precisa ter contato com os animais, pra desenvolver não só a imunidade, mas também o afeto e o cuidado com esses seres.

Pode prender a bermuda na cerca vez ou outra e aparecer cheio de carrapicho.
Precisa do verde, da liberdade, da serenidade.

E precisa da simplicidade, porque a essência da criança é assim, ela precisa de muito pouco pra ser feliz. Afinal, isso é a infância.

É nisso que eu acredito, e isso tem de sobra aqui.









Influências 3 - Contos de Fadas

Desde que comecei a me inclinar pro Feminismo, tenho me questionado sobre o poder de indução que um conto de fadas poderia ter sobre uma criança, em especial uma menina.

No geral, esse tipo de história trata de uma jovem indefesa, ingênua, boa e sofredora que vê sua vida transformada em um mar de rosas quando é salva por um príncipe. Isso inegavelmente é machista. É o tipo de machismo mais comum hoje: aquele que tá escancarado, mas que ninguém nota!

Entretanto me questiono: eu ouvi todas essas histórias mais comuns quando criança, mesmo assim elas não me afetaram na vida jovem/adulta; e até quando poderia-se "esconder" esses tipos de contos de uma infância inteira? ou Eu tenho direito de privar um filho dessa parte tão encantadora (e alienadora) da infância?

Talvez o melhor fosse contar não apenas essas histórias, nem mesmo omiti las, mas contá-las alternadamente: um dia um conto convencional, noutro um conto cheio de aventuras de ambos os sexos, como o do Peter Pan e o da Valente. Ou quem sabe criar histórias onde o grande herói é na verdade uma grande equipe de meninos e meninas? Histórias de monstrinhos, de animais... Procurar não enfatizar tanto as princesas convencionais. Parece fácil.

Será?


quinta-feira, 6 de março de 2014

Me dê a mão, vamos sair pra ver o sol

"Hoje eu acordei com uma vontade danada de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho e desejar bom dia, de beijar o português da padaria. [...] Me dê a mão, vamos sair pra ver o sol."

Telegrama - Zeca Baleiro

Esse trecho pode resumir meus últimos dias.
Tô me esforçando pra seguir as minhas "regras" e recentemente tenho me sentido muito bem comigo mesma. Até me animei de voltar a dar as caras aqui no blog (que já estava às moscas) e pretendo continuar assim. :)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Voltei!

Depois de um mês sem post, voltei!

Como muitas coisas na vida, no começo é aparentemente tudo lindo e perfeito, mas depois começam a surgir empecilhos pra desanimar a gente. Ouvi concelhos de um povo bacanudo e resolvi voltar a ver mais os pontos positivos das minhas escolhas, relaxar, "meditar" e só pensar nas coisas ruins quando realmente não tiver mais outra escolha.

Então resolvi estabelecer pra mim algumas regras:

1. Relevar problemas pequenos;
2. Acertar desavenças com calma;
3. Admirar as pequenas coisas;
4. Cuidar mais da minha saúde mental e física;
5. Ignorar comentários desagradáveis;
6. Agir naturalmente;
7. Organizar minha vida;
8. Pôr os planos em prática.

São regras porque eu VOU cumprir.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Autoridade: mandar ou conduzir?

A partir do momento em que nos tornamos responsáveis por um ser totalmente dependente, é claro que temos autoridade sobre ele, mas onde termina esse direito? Afinal trata-se uma outra vida, e, como eu defendo que ninguém é dono de ninguém, como e quando eu posso “mandar” num filho? E se não mandar, como ele vai se orientar? (Dever "obediência" ecoa muito grosseiramente na minha cabeça).

Numa situação em que você tenta ensinar ao filho a ter responsabilidades, com algo simples como arrumar a própria cama, o certo seria simplesmente mandar o filho fazer tal coisa ou orientá-lo a tal, convencendo-lhe de que este seria o melhor pra ele? Sim, eu sei que esse discurso soa meio “politicamente correto” demais e muito moralista, mas eu realmente tenho dúvidas sobre esse poder de autoridade de um pai, pondo em pauta a possibilidade de criar um filho apenas dando as alternativas pra que ele próprio faça suas escolhas, sabendo que cada uma traz consigo uma consequência, tentando conduzi-lo para o que eu acredito ser o melhor pra ele. Mas se você visse seu filho em uma situação complicada, optando por algo que nitidamente não será bom pra ele, qual seria a sua reação? Obviamente você tentaria o impedir.


Talvez o ideal seja procurar um equilíbrio entre mandar e conduzir, dando o direito de escolha à criança em situações mais simples em que, mesmo que ele faça a escolha errada, nada de extremo lhe acontecerá e com isso, quem sabe aos poucos, ele vá aprendendo a optar sozinho pelos melhores caminhos, né?

sábado, 11 de janeiro de 2014

Influências 2 - Rosa pra ele, azul pra ela

O tema de hoje relaciona-se também com minha simpatia pelo feminismo e, antes de tudo, lembre-se: eu ainda não tenho uma posição definida sobre os temas citados no blog, afinal aqui eu busco aprender com opiniões e vivências alheias e tentar assim chegar a alguma conclusão sobre a criação de um outro ser.

O assunto que me leva a conflitar rotineiramente com Dedé é sobre como agiríamos tendo um filho hetero ou homossexual. Da minha parte, a orientação sexual dele será indiferente, mas da parte de Dedé, não. Ele tem a preferência dele e quanto a isso eu não posso fazer nada, entretanto o problema não é necesariamente esse, já que eu sei que, apesar de ele ter uma preferência, ele vai cuidar do filho e respeitá-lo da mesma forma. A questão é que eu acho certo dar a liberdade de escolha pra um outro ser, seja ele meu filho ou não, o tal do livre arbítrio. O que quero dizer é que eu não pretendo induzir meu filho a um preconceito, privando-o de determinadas coisas que são classificadas por gênero. Exemplos? Já ouviu falarem que quando não se sabe o sexo do neném, a gente tem que comprar roupinhas de cores neutras, comumente amarelinhas e branquinhas e brinquedos só depois de crescido? Mas por quê? Por azul e verdinho é pra neném menino e rosa e lilás é pra neném menina. Bonequinhas, ferrinhos de passar e panelinhas são pra elas. Carrinhos, bolas e ferramentinhas são pra eles. Mas por quê?! Porque, caso contrário, estariam criando um filho frufru ou uma maria-macho. Mas não, não é por isso não. É porque temos um preconceito enorme e um medo maior ainda do próprio preconceito, mas isso está tão camuflado que às vezes nos passa despercebidamente.

Se pararmos pra pensar, quem foi que definiu quais cores eram femininas e quais eram masculinas? Porquê um menino não pode ser sentimental e uma menina racional? Ok, eu sei que nos primórdios as atividades estabelecidas para cada sexo fizeram com que se desenvolvessem habilidades mais específicas para cada um, mas isso não é uma regra. Nem todo homem tem que ser o provedor, o racional, o que vai trocar as lâmpadas, usar as calças com carteira no bolso de trás e nem o que vai dar a palavra final, assim como nem toda mulher tem que ser doce e meiga, a que vai  chorar com músicas românticas, usar saia de florzinha e lavar a louça depois de preparar o jantar. O fato é que somos induzidos a induzir isso. E se seu filho, ainda sem idade pra fazer distinções de sexo, quisesse brincar com bonecas e usar vestido? Simplesmente quisesse experimentar, porque viu a irmãzinha fazendo o mesmo? Eu penso que ele teria todo o direito e, depois, ele próprio escolheria o que lhe fosse mais atrativo, que te fizesse melhor, se seria um vestido ou uma bermuda, se seria uma boneca ou um carrinho. Mas a maioria de nós prefere privar o filho dessa alternativa, simplesmente porque acredita que isso poderia induzí-lo à homossexualidade – e isso seria visto como um problema – ou porque a sociedade iria julgar esse ato de maneira muito cuel (observação muito bem colocada por Dedé) – e é aqui que eu me pego num dilema: princípios versus razão, afinal eu não acredito nessa regra cissexista* de definir padrões pelo gênero, mas a sociedade no geral sim, e deixar meu filho, que ainda não tem discernimento para compreender o que essa escolha pelo “diferente” pode lhe acarretar, sofrer com o preconceito alheio, me deixa perplexa.

Engraçado que, nos dias em que eu estava estruturando este post, alguém próximo a mim com uma criança de uns dois anos e meio, me deu um exemplo exato do que eu sou contrária a se fazer: privou o pequeno de ter mais que dois dedinhos de prosa com uma boneca, alegando que “isso é coisa de menina”, e que ele “viraria menininha se brincasse com aquilo”. Duvido muito que ele soubesse que aquilo é característico de quem tem o órgão sexual oposto ao dele. Ele só queria brincar um pouco, possivelmente sem nem saber como, só associando com uma outra criancinha. Mas aos poucos ele vai crescer acreditando que só meninas podem brincar com bonecas e determinadas outras coisas e levar isso pra vida adulta também, acreditando que o papel de cuidar de um filho é especialmente da mulher, exceto pela parte financeira, que, como também nos induzem a concordar, é especialmente função do homem.

Portanto, ainda não sei ao certo o que farei quanto a isso. Você tem algo a dizer sobre?
*Pra saber mais sobre o termo cissexismo e compreender melhor toda minha argumentação, consulte este link. E aqui um comercial relacionado. :)